Confira íntegra do artigo do presidente da Febase e vice da CNS, Marcelo Britto, publicado no jornal A Tarde de hoje, segunda, 13 de fevereiro, coluna Opinião, pág. A3.
Novo modelo para Saúde Suplementar
*Marcelo Moncôrvo Britto
Mais de duas milhões de pessoas deixaram a Saúde Suplementar em menos de dois anos, segundo dados de dezembro de 2016 da Agência Nacional de Saúde. Empresas cancelaram seus planos de saúde ou os trocaram por planos mais restritivos e de eficácia duvidosa.
Colaboradores são desligados e, apesar do direito de permanecer com seu plano, não possuem recursos para pagá-lo. Resultado: consultórios vazios, leitos sobrando, recursos diagnósticos ociosos e maior sobrecarga do SUS.
Não é possível um plano de saúde custar tanto. Uma família sadia, constando marido e esposa com 49 e 48 anos e dois filhos com 24 e 22, portadores de um seguro individual, pagando mais de R$ 3 mil é inadmissível. As operadoras alegam estar com um custo na assistência muito alto. Os hospitais, clínicas, laboratórios, médicos e demais profissionais do setor alegam receber pouco, com muito atraso, glosa e excessiva burocracia.
O que está acontecendo com esse mercado, onde a maioria dos atores não se entende? Um mercado que responde por 9,6% do PIB nacional não pode ser relegado a segundo plano. Isso sem contar sua relevância na vida das pessoas. Respondemos tanto pela saúde como pela doença dos brasileiros. Permitir a míngua da Saúde Suplementar seria condenar os usuários do SUS. Os pacientes da rede privada têm acessos à classe política, autoridades governamentais, médicos e a outros profissionais da saúde. E, se tudo falhar, acesso à Justiça, obtendo, assim, uma porta diferenciada de acesso. Como a disponibilidade do SUS (ou a falta dela) é de conhecimento público, esta estaria ainda mais comprometida por aqueles que acessam de forma diferenciada os serviços e que hoje utilizam pouco o sistema público.
O modelo atual não alinha interesses entre usuários, operadoras e prestadores de serviços. Pelo contrário, gera uma disputa pelo recurso do usuário. Quanto maior a utilização, mais ganha o prestador e perde a operadora. Quanto menor a utilização, mais perde o prestador e ganha a operadora. Um paradoxo. Este modelo praticado no Brasil (e na maior parte do mundo) está quebrando o sistema.
O brasileiro médio está pagando esta conta (ou não está pagando mais!). Precisamos mudar o modelo e construir outro, permitindo que os interesses das partes sejam convergentes. Sem que para um ganhar, outro tenha que perder. Onde a saúde do usuário esteja do primeiro ao último lugar. Onde operadora e prestador percam juntos quando a saúde der lugar à doença; e ganhem também juntos quando a doença der lugar à saúde.
Utopia? Não. Vamos propor um modelo que permita este objetivo. Manter nossas mentes abertas é premissa. A novidade chegará e poderá ser a salvação da Saúde Suplementar. Não temos mais para onde ir.
*Médico, presidente da Federação Baiana de Saúde (Febase) e vice-presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS)
*Fonte: Jornal A Tarde. Link: Acesse aqui íntegra da página do impresso