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Entrevista: Presidente da CNS quer dar mais poder às federações

Sem categoria - 10.10.16

Eleito para comandar a entidade até dezembro de 2018, o biomédico catarinense Tércio Kasten diz que dará mais poder aos presidentes das federações estaduais em sua gestão e que a criação do Sistema “S” na saúde será uma das suas prioridades

Em outubro de 2015, o biomédico catarinense Tércio Kasten, de 69 anos, venceu a eleição para a presidência da Confederação Nacional da Saúde com a maioria de votos. Mandatário da Fehoesc (Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de Santa Catarina) e aliado do paranaense Renato Merolli, que ocupou o cargo até o fim do ano passado, Kasten disputou o mandato com o médico nefrologista Yussif Júnior, presidente da Fehoesp. Com a promessa de descentralizar a gestão e buscar maior poder político para a CNS, o dirigente comanda a entidade pelos próximos três anos e um orçamento anual de pouco mais de R$3 milhões. “Iniciamos o ano com a primeira reunião dos oito presidentes das federações, quando desenhamos o modelo de gestão compartilhada que será implementado”, antecipou Kasten, em entrevista à Diagnóstico. “Os presidentes das federações ocuparão espaços estratégicos dentro de um novo modelo de governança.” A descentralização nas decisões, contudo, não o fará abdicar das convicções, que julga ser as melhores para o setor. “Quero ser um porta-voz dos nossos associados, um unificador das ações com outras entidades que representam o setor saúde, sempre de forma democraticamente compartilhada e, quando houver a necessidade, com posições firmes”, afirma. No que diz respeito ao exercício de um papel político mais significativo por parte da confederação, ele não necessariamente passa pela ocupação do Ministério da Saúde por um membro da CNS. Defensor do sistema “S” para a saúde, o dirigente vê com bons olhos a injeção de capital estrangeiro no setor, especialmente para a apropriação de novas tecnologias e novos conhecimentos de gestão. Mas reconhece que ainda existem muitas dúvidas sobre o tema: “Como são investimentos que, via de regra, necessitam de retorno financeiro, como seriam feitos no SUS? O cidadão e os hospitais dependentes do SUS serão atingidos?”, questiona ele, que concedeu a seguinte entrevista à Diagnóstico.

Revista Diagnóstico – O senhor obteve nas últimas eleições da CNS uma margem quase absoluta de votos. O que essa confiança demonstrada pelo eleitorado representa para seu mandato?
Tércio Kasten – Representa a aceitação de minhas propostas para o formato de gestão compartilhada que deveremos implantar nos próximos três anos, gestão essa que tem a ideia de mostrar mais a CNS para a sociedade em geral e para seus próprios associados, suas bases. Representa também uma grande responsabilidade frente à CNS na proporção direta na confiança em mim e nos nomes da nova diretoria, depositada na urna em 1º de outubro de 2015.

Diagnóstico – O senhor se elegeu com o compromisso de dar mais protagonismo às federações. Como isso se dará?
Kasten – Já iniciamos o ano com a primeira reunião dos oito presidentes das federações, quando desenhamos o modelo de gestão compartilhada que será implementado na CNS. Os presidentes das federações, que são os vice-presidentes da CNS, ocuparão espaços estratégicos dentro de um novo modelo de governança que implantaremos. É o que chamo de gestão dos oito presidentes. O papel desses dirigentes é tão importantes quanto o meu.

Diagnóstico – O que o senhor prevê em termos de reforma estatutária na CNS?
Kasten – Na primeira reunião deste Conselho de Representantes da CNS, decidimos que uma reforma estatutária será realizada no tempo em que a necessidade para tal ocorra. A primeira talvez seja no sentido de estabelecer o protagonismo dos diretores na gestão compartilhada, como citei anteriormente. Cada vice-presidente deve abraçar responsabilidades de acordo com sua vontade. Um vice, por exemplo, pode cuidar da arrecadação; outro, das relações com o Congresso, cuja segunda maior bancada é a de médicos. E também alguém que cuide do sistema “S” da saúde. É preciso ainda que um vice-presidente fique incumbido do relacionamento com os ministérios da Saúde e do Trabalho – os mais importantes dentro do nosso sistema, uma vez que somos um sindicato patronal da área da saúde. Também pretendo contratar um diretor executivo remunerado que possa realizar uma gestão profissionalizada de governança. Não sei quando será feita essa contratação, tudo dependerá do nosso orçamento.

Diagnóstico – Acha que seu cargo deveria ser remunerado?
Kasten – Não. O cargo é exercido voluntariamente com o intuito de representar nossos associados, sem profissionalismo remunerado. Nosso cargo é político classista e nossa remuneração provém de nosso exercício profissional particular, que nos habilita a esse exercício, de acordo com a legislação sindical brasileira, que também proíbe a remuneração dos dirigentes sindicais.

Diagnóstico – Qual o orçamento da CNS para 2016? Que impacto a crise pode ter para a confederação?
Kasten – O orçamento da CNS para 2016 é de R$ 3,3 milhões e depende exclusivamente da contribuição (imposto) sindical recolhido compulsoriamente pelos estabelecimentos prestadores de serviços de saúde, com exceção dos filantrópicos e dos optantes pelo Simples, e, também, da Contribuição Confederativa, que é associativa e serve para a manutenção do Sistema Confederativo da Saúde. Há de se enaltecer que os estabelecimentos públicos/governamentais, por não fazerem parte de nossa representação, também não realizam o recolhimento de qualquer espécie para o nosso sistema. É preocupante a atual crise econômico-financeira do Brasil e seu aprofundamento nos próximos anos, na medida em que a inadimplência no recolhimento das contribuições citadas possa ocorrer, assim como o impacto do aumento da inflação nas despesas correntes da CNS.

Diagnóstico – Quando o país terá um ministro da Saúde pertencente aos quadros da CNS?
Kasten – Não vejo a necessidade de um nome oriundo da CNS para ocupar esse cargo, pois o que vale é a capacidade do ocupante em termos de conhecimentos técnicos, além da importância política que, espera-se, o cargo deve ter. A capacidade técnica reside principalmente na realização de um planejamento estratégico de longo prazo para o setor, o que na atualidade não existe, principalmente quanto à atenção e à assistência hospitalar. Acho que a politização no modelo atual faz mal não só ao setor saúde mas a toda a administração pública. A nomeação para um cargo como o de ministro da Saúde não pode obedecer apenas a interesses político-partidários.

Diagnóstico – Quando foi presidente interino da CNS, o senhor sempre teve um perfil apaziguador, que costuma delegar funções, mas ao mesmo tempo não abria mão de implementar as ações que julgava serem as melhores para o futuro da confederação. Qual será o perfil do presidente eleito?
Kasten – Sou um entusiasta do associativismo como instrumento indispensável para uma democracia plena e fator importante voltado para os interesses de nossa categoria. Portanto, quero ser um porta-voz dos nossos associados, um unificador das ações com outras entidades que representam o setor saúde, sempre de forma democraticamente compartilhada e, quando houver a necessidade, com posições firmes. Meu perfil não é o de centralizar todas as operações.

Diagnóstico – Como o sistema “S” da saúde contribuiria para a solução dos problemas de assistência médica no país, em particular a capacitação dos profissionais? O que ele significaria em termos de capital a ser investido no setor?
Kasten – Será um “novo dinheiro” para o financiamento da saúde, mesmo que de forma indireta, e que terá grande influência na capacitação da mão de obra dos trabalhadores do setor, em todos os níveis profissionais. Estimamos que a criação do Sistema “S” na saúde representaria receitas adicionais em torno de R$ 400 milhões anuais, no mínimo.

Diagnóstico – Como elevar o status político da CNS?
Kasten – Demonstrando ao governo e à sociedade que a CNS representa o que há de mais eficiente em termos de serviços de saúde, cujos inúmeros modelos poderão auxiliar na gestão dos serviços públicos. Os melhores hospitais brasileiros são os privados, que abrigam modelos de excelência, tanto em assistência, quanto em gestão. O SUS hoje segue um modelo que não tem mais lugar na sociedade, com uma gestão que muitas vezes custa cinco ou seis vezes mais que a do serviço privado e com uma eficiência muito menor. Estamos abertos para ajudar na gestão do serviço público, de modo geral.

Diagnóstico – O senhor acredita que a entrada do capital estrangeiro nos hospitais pode melhorar a performance financeira do setor?
Kasten – Acredito que sim. Ainda existem muitas dúvidas sobre o assunto. Como são investimentos que, via de regra, necessitam de retorno financeiro, como seriam feitos no SUS? O cidadão e os hospitais dependentes do SUS serão atingidos? Já como apropriação de novas tecnologias e novos conhecimentos de gestão – como vemos em outros setores da economia –, a entrada do capital estrangeiro deve aumentar muito a performance do nosso setor.

Diagnóstico – O setor foi em 2015 um dos poucos no país a ter saldo positivo entre contratações e desligamentos, segundo o IBGE. É possível fazer alguma estimativa sobre esse balanço para os próximos anos?
Kasten – Acredito que manteremos os mesmos níveis de 2015, pois é um setor que necessita de um número cada vez maior de profissionais para dar assistência ao cidadão brasileiro. Crises econômicas acarretam uma maior demanda dessa assistência, em qualquer lugar do mundo. As pessoas ficam mais doentes. Pode ser que não haja mais contratações, mas para haver demissões seria necessária alguma questão muito grave no país, como o fechamento de hospitais. Mas acho que não será o caso.

Diagnóstico – Como o aumento dos custos hospitalares e a alta do dólar podem afetar a performance dos hospitais?
Kasten – Esta é uma situação que trará desconforto para o setor, pois o aumento dos custos hospitalares e dos de outras áreas como laboratórios, imagem e clínicas está atrelado ao aumento da inflação da saúde, que sinaliza para aproximadamente 20%, vinculado ao aumento dos salários e dos insumos utilizados no setor. Tecnologicamente falando, o dólar tem influência relevante nos custos hospitalares, uma vez que essa tecnologia é praticamente toda importada.

Diagnóstico – Em poucas palavras, como definiria A CNS que Queremos, o slogan de sua campanha?
Kasten – A CNS que Queremos resumidamente será: mostrar a CNS para o Brasil; construir uma gestão compartilhada; aprimorar o relacionamento com entidades parceiras; ajudar na solidificação da saúde suplementar; aprovar o projeto “S” da saúde.

Diagnóstico – O senhor pretende se candidatar às próximas eleições na CNS?
Kasten – A minha gestão é de três anos, encerrando-se no dia 31 de dezembro de 2018. Novas propostas e novas ideias sempre são bem-vindas. Não vislumbro uma reeleição. A renovação é muito importante, e quero mostrar isso no setor da saúde, pois é algo que nem sempre ocorre na agenda pública brasileira de modo geral.

Diagnóstico – Como avalia a política de saúde do governo?
Kasten – O subfinanciamento e a falta de planejamento demonstram que não há política de saúde no governo, com a exceção dos programas de imunização de doenças, dos transplantes e de medicamentos, que são sucesso porque foram planejados para longo prazo, antes desta gestão.

Entrevista publicada na revista Diagnóstico n° 32.

Autor: Edson Valente

Fonte: Diagnóstico Web – http://www.diagnosticoweb.com.br/noticias/gestao/entrevista-presidente-da-cns-quer-dar-mais-poder-as-federacoes.html






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