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Custo de plano de saúde diminui com prevenção

Marcia Agosti        Márcia Agosti, da GE, que investe R$ 378 mil em programas para melhorar a saúde de 7 mil funcionários e consegue um ganho real de R$ 622 mil por ano

Ao contrário da maioria das empresas que a cada ano paga uma conta mais alta de plano de saúde, a GE Brasil conseguiu reduzir em R$ 1 milhão o custo anual do convênio médico – benefício que representa a segunda maior despesa da área de recursos humanos das companhias, perdendo apenas para a folha de pagamento de funcionários.

Para atingir essa economia, a GE investe anualmente R$ 378 mil em ações de prevenção de doenças e incentivos a hábitos de vida saudáveis para um grupo de 7 mil empregados, ou seja, 80% do total de funcionários da empresa no país.

Com isso, a GE obtém um ganho real de R$ 622 mil por ano. “Conseguimos baixar nossa taxa de sinistralidade [relação entre prêmio e custo] que em 2010 era de 98% para 68% no ano passado. Não adotamos restrições para uso do plano de saúde. A economia veio mesmo do programa”, disse Márcia Agosti, gerente de programas de saúde populacional da GE Brasil.

Iniciado há dois anos, o programa da GE contempla ações de combate ao tabagismo, sedentarismo e obesidade, incentivos à prática de atividades físicas e alimentação saudável, além de acompanhamento de doentes crônicos, entre outras.

No caso da Whirlpool, que também tem ações semelhantes, o custo com plano de saúde é cerca de 20% inferior ao praticado no mercado por conta dos programas.

Segundo Antonietta Medeiros, diretora médica da Aon, consultoria de seguros e benefícios, em média para cada R$ 1 investido em programas de prevenção e promoção à saúde há um retorno de R$ 1,95 – o que representa um ganho real de R$ 0,95. “Esse retorno ocorre em companhias com uma política de benefícios madura, o que leva de 20 a 22 meses”, disse a médica da Aon que tem 18 clientes globais com programas em nível avançado.

As despesas com convênios médicos vêm aumentando de forma expressiva. Em 2012 e 2013, o reajuste médio anual dos planos de saúde corporativos foi de cerca 20%. Atualmente, a despesa com o plano de saúde representa entre 15% e 20% do valor da folha de pagamento, sendo que o ideal é que esse percentual gire em torno de 8% a 12%.

“Há empresas como Whirlpool, Natura, Caterpillar e GE que investem em prevenção e promoção à saúde e conseguem manter o custo do plano de saúde em cerca de 10% da folha de pagamento”, disse Paulo Marcos Senra Souza, presidente da Aliança para a Saúde Populacional (Asap) e diretor da Amil. A Asap é uma entidade criada há dois anos para desenvolver indicadores e programas de promoção à saúde. Entre os seus associados estão, por exemplo, Amil, Bradesco Saúde, Intermédica, PwC, Telefônica Vivo e Odebrecht.

A entidade brasileira é inspirada em uma organização chamada Care Continuum Alliance (CCA), que atua nos Estados Unidos, onde muitas companhias já investem em gestão da saúde dos funcionários. Não à toa, as multinacionais costumam ser pioneiras no que se refere a benefícios no Brasil.

Várias companhias nacionais já têm ações para melhorar a qualidade de vida dos empregados. Porém, poucas mensuram de forma efetiva o retorno financeiro desses programas e em muitos casos eles ainda são tratados como ações de marketing. Pesquisa realizada pela Asap com 97 empresas no país mostra que 34% delas não têm nenhum conhecimento sobre a saúde de seus funcionários, 37% possuem alguma informação e apenas 29% responderam que conhecem bem como é a saúde dos colaboradores.

O sócio da consultoria de saúde SantéCorp, Paulo Hirai, propõe que os programas contemplem um ambulatório dentro das empresas com um médico para acompanhar de perto a saúde dos funcionários. No HSBC, essa medida foi adotada e houve um ganho de 13% no custo do plano de saúde.

Os programas são uma parte da fórmula para redução dos custos em saúde. Representantes do setor batem na tecla de que precisa haver também uma melhor qualidade dos médicos e hospitais credenciados aos planos de saúde, popularmente conhecido como médicos de convênio.

“As operadoras precisam melhorar sua rede credenciada. Caso contrário, os usuários vão continuar agendando de 10 a 15 consultas por ano e o gasto vai continuar nessa escalada”, disse o presidente da Asap e diretor da Amil. Em 2013, as operadoras de planos de saúde desembolsaram R$ 90,5 bilhões em pagamento de internações, consultas e exames de laboratórios, um aumento de 14,3% em relação a 2012, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

“Não adianta ter uma imensa rede de médicos credenciados sem qualidade. Acredito que apenas 30% dos médicos credenciados dão uma boa atenção aos usuários. Mas a escolha dos médicos precisa ser feita por alguém da área da saúde, dificilmente o gestor de RH fará esse trabalho”, disse o médico Michel Daud Filho, diretor da Asap e um dos pioneiros em programas de saúde corporativa no país.

Daud criou na Telefônica Vivo um programa em que os médicos e hospitais do convênio médico eram escolhidos a dedo. Além disso, os funcionários da empresa de telefonia podem ser atendidos por médicos “medalhões” como o infectologista David Uip e o cardiologista Roberto Kalil em casos complexos. Mesmo com esses benefícios adicionais, o custo da Telefônica Vivo com plano de saúde representa 7,8% da folha de pagamento.

No começo do ano, o programa da empresa brasileira de telefonia foi um dos vencedores do Prêmio Global Healthy Awards and Summit em que participaram cases de 33 países.

Fonte: Valor Econômico


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